segunda-feira, 1 de junho de 2009

No reino de Tão Tão Distante

Os finais de semana em Perus são todos iguais. Geralmente as pessoas se deslocam para bairros vizinhos ou até o centro da cidade buscando diversão. Para aqueles que preferem ficar ou, por algum motivo, não podem se deslocar para outros lugares não restam muitas alternativas.
A moda em Perus, sem dúvida, é o funk. É possível encontrar um adolescente escutando o ritmo, em mp3 e celulares, praticamente a cada passo dado na rua. Escutam e cantam empolgadamente: “Onde as novinhas rebola e desce até o chão/ Salgueiro é o caldeirão/ Salgueiro é o caldeirão/ Salgueiro é o caldeirão/ Elas desce e remexe a cadeira/ A cadeira e rebola” (Mc Ombrinho e Menor do Chapa).
Nas escolas predominam os bondes ou famílias. Pelo que sei os bondes são menores que as famílias. Só pode pertencer a um grupo quem for convidado e se comprometer a seguir algumas regras, como se fosse um estatuto. Por aqui são muitos bondes e famílias com nomes e lemas muito diferenciados e criativos: Bonde dos solteiros – Solteiro sim, sozinho nunca; Família Noturna – Ou corre com “nóis” ou corre de “nóis”, Família Pikadilha – Família grande e complicada e Família Pão com Ovo – Mexeu com “nóis” ta frito. Camisetas e bonés identificam cada grupo, os quais muitas vezes se enfrentam porque “mexeu com um, mexeu com família toda”.
Sem opções de lazer, famílias, bondes, pagodeiros, roqueiros e uma infinidade de estilos, como se fossem cardumes, se reúnem na Praça Inácia Dias nos finais de semana. Já na sexta-feira a noite é possível notar a grande concentração de pessoas desde a escadaria da estação ferroviária. Ao redor da praça carros estacionados tocam, na maioria das vezes, funk e pagode. Pastel, cachorro quente, cerveja e afins fazem parte do cardápio da noite. A rua vira banheiro público e o cheiro de urina se torna insuportável.

No entanto, sábado quando cheguei em Perus me surpreendi e me decepcionei ao mesmo tempo. Já da catraca de saída da estação enxerguei um telão bem no meio da praça. O filme era “Meu nome não é Johnny” e a plateia era quase ninguém. Poxa, onde estava toda aquela gente que fica ali nos finais de semana? Por isso, surpreendente e entristecedor ao mesmo tempo.
Muitos comentavam o “absurdo”. Como assim passar um filme na praça! Foge totalmente da normalidade! È a oportunidade de lazer para muitos que nunca foram ao cinema escapando por entre os dedos. Mas o que fazer, afinal não se pode forçar ninguém a fazer uma coisa que não queira. Por isso, apesar de ter crescido aqui a periferia, muitas vezes, me parece estranha, impenetrável e muito rica ao mesmo tempo. A diversidade é imensa, são muitos valores convivendo em um só espaço.
Fiquei pensando nisso. Queria que muitos tivessem visto o filme. Cheguei em casa e fui baixar “Meu nome não é Johnny” já que eu também não havia assistido, ou melhor, ainda não assisti porque trabalhei hoje (sim, trabalhei em pleno domingo). Acho que na próxima semana não vai ter cinema ao ar livre e, com certeza, a praça vai estar lotada. A situação é, no mínimo, curiosa.


2 comentários:

Entrete[discer]nimento disse...

Pois é Sheiloca. O filme que estava sendo exibido na praça é parte do projeto Cinequilombo, da Comunidade Cultural Quilombaque, que você conhece. Toda última sexta-feira do mês estamos com a proposta de levar para a praça curtas-metragens que despertem algo nas pessoas que transitam por ali. Como um otimista incorrigível eu vejo isso com muita esperança. É verdade que enquanto "Meu Nome Não é Jonny" estava sendo exibido, a praça não estava tão lotada, mas é possível perceber que as pessoas estão chegando timidamente, não ficam muito próximas do telão, mas estão ao redor, se perguntando o que é aquilo, o que é esse lance de cinema na praça e de graça! Além do cine, também vai rolar duas vezes por mês (segunda e última sexta do mês) o projeto Radiola, com apresentação de diversas sonoridades pra galera, enquanto imagens são projetadas no telão. Acredito que a persistências dessas ações mudará, em breve até, o cenário da praça e do seu entorno. Beijos! Silvio

Unknown disse...

ótima iniciativa, silvio! na verdade eu já havia desconfiado que era projeto da quilombaque! triste pensar que as pessoas tem vergonha, medo... sei lá oq! eu, enquanto esperava o ônibus, fiquei vendo o filme! hehehe! também acho que a persistência consegue mudar esse quadro pq oq me chamou a atenção mesmo foi o "espanto" das pessoas com o cimena ao ar livre. As oportunidades são oferecidas,agora basta a população saber aceitá-las, né?

Bju!!
valeu por sempre estar por aqui!!