quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pensamentos pós “A Festa da Menina Morta”




Antes que saísse de cartaz, fui assistir ao tão comentado “A Festa da Menina Morta”, estréia do ator Matheus Nachtergaele como diretor de longa-metragem. Confesso que o filme deixou muitas lacunas em minha cabeça. Não só na minha porque no final o público permaneceu por mais um tempo na sala como se ainda estivesse digerindo o excesso ou, talvez, ausência de elementos.
A obra trata de muitos assuntos simultaneamente e os questionamentos são inevitáveis. É um filme que toca em pilares como fé e família. A história se passa em uma comunidade ribeirinha do Alto Amazonas. Uma menina desaparece e um cachorro leva um pedaço de sua roupa suja de sangue para Santinho que acabara de perder sua mãe por suicídio. O fato é visto como um milagre a partir de então o “trapo” passa a ser considerado sagrado e o menino, como já mencionado em seu nome, um santo.
Oras, mas se a menina desapareceu, qual foi o milagre de Santinho¿ Ai está, o primeiro ponto delicado do filme, pois mostra a fé da população em um milagre que não existiu. E esse é o motivo de revolta do irmão da garota desaparecida, já que a comemoração custa somente a ele e a sua mãe a dor da perda. No entanto, as pessoas só pensam na festa e comemoram o dia do desaparecimento.
Outro ponto: dentro da precariedade em que vive, Santinho é tratado como um nobre. Porém, a população não sabe da intimidade do rapaz: ele mantém uma relação incestuosa com seu pai. Santinho representa o sagrado e o profano, mas seus devotos não reconhecem essas facetas. Isso demonstra que, muitas vezes, as pessoas não conhecem aquilo em que acreditam. Será que ele seria beatificado se seus adoradores soubessem dessa relação incestuosa¿ Provavelmente não, pois a família é um dos pilares da sociedade.
A vida de Santinho é uma grande farsa (ele é um personagem instável psicologicamente) e ao perceber isso, antes da vigésima “Festa da Menina Morta”, o rapaz entra em crise. Por inúmeros motivos ele percebe que está enganando seu povo e, por isso, diz em seu discurso (supostamente dito a ele pela menina morta) que “a palavra do ano é a dor”.
O filme mostra a necessidade de aquela população ribeirinha crer em algo maior, da mesma forma que encontramos centenas de crenças diferentes a cada esquina que dobramos - o mercado depende da demanda. Mas, “A Festa da Menina Morta” não é só isso, ele é angustiante e indigesto.
Para finalizar, não posso deixar de expor um pensamento maligno que tive durante o filme: o Inri Cristo, se é que ele vai ao cinema, deveria ver o longa. Quem sabe ele não perceba que, assim como Santinho, que “a palavra do ano é dor”. Pior do que mentir é persistir na mentira...

Entrevista de Matheus Nachtergaele para a revista Bravo, clique aqui


Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do comentário Sheila, eu ainda não assisti e estava mesmo querendo vê-lo. É bom que agora já fico preparada para ele, depois de vê-lo volto aqui para dizer se concordou ou não com você. Mas desde já digo que compartilho da mesma opinião quanto ao Inri Cristo.
bjs