Ela era uma senhora gorda, usava galochas de oncinha e um casaquinho da mesma estampa. No rosto, os óculos de sol não escondiam somente os seus olhos. Uma “coroa” moderna. O metrô estava vazio e ela falava muito alto, a única alternativa era escutar a conversa dela com uma mulher que estava sentada ao seu lado. Elas não eram amigas, haviam acabado de se conhecer.
O grande problema da senhora era a sogra dela. “Aquela cobra só quer por o meu marido contra mim”. Ora, o que a outra mulher tinha a ver com isso? Se fosse comigo, nem daria atenção. E ela continuou: “Sábado ela ligou dezenove vezes no meu celular, eu não quis atender porque já sabia o assunto, não podia falar na frente das minhas amigas. Depois ela foi e falou um monte do pro meu marido.
- Ela é o demônio!
Confesso que nessa hora não aguentei e deixei um leve sorriso escorregar em meus lábios. A outra mulher, ainda calada, resolveu se manifestar: “Pois quem é o demônio na minha família é a minha mãe!”. Mais uma vez sorri, afinal porque elas tinham que contar a vida delas pra todos que estavam no vagão? Fiquei com ódio, mas segundos depois tive pena. Mesmo cercadas pelos amigos de trabalho e pela família, ambas estavam carente e, por isso, contariam seus problemas para o primeiro cachorro que encontrassem na rua. È muito comum encontrar, em transportes coletivos, andares solitários no meio da multidão, como essas senhoras.
Deve ser difícil não ter ninguém para compartilhar as desventuras do cotidiano. Mas elas não se importaram e por vinte minutos se tornaram amigas de infância. O condutor anunciou:
- Estação Santana.
Elas se despediram, desejaram boa sorte uma para outra e, provavelmente, nunca mais se encontrarão na vida.
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